terça-feira, 11 de abril de 2017

O PÚLPITO PENTECOSTAL (1)





Alguém deve ser identificado como cristão por refletir padrões bíblicos de pensamentos, sentimentos e ações. Assim, basicamente, cristão é aquele que tem a Bíblia como padrão de regra e fé e que crê em sua inspiração divina (2 Tm 3.16).

Como obter conhecimento da Palavra de Deus? Inicialmente, cabe a todo cristão ler e meditar nas Escrituras (Sl 1.2; Sl 119.97, 103), mas também é obrigação irrenunciável dos pastores e demais oficiais da igreja, de todos os que fazem uso do púlpito para falar em nome de Deus, expor a Palavra, pregar a Palavra (2 Tm 4.2), não usando da ocasião para falar o que acham, o que pensam em sua fértil imaginação, pois a Palavra não provém do homem, mas de Deus (2 Pe 1.20,21).

Talvez uma das maiores carências da Igreja na atualidade seja esta: a verdadeira pregação da Palavra Deus. Alguém poderia afirmar que todos os dias e em várias ocasiões há pregação, sendo incabível falar em carência; outro poderia alegar que há a internet, programas de rádio e TV, sendo assim, não há carência de pregação. Todavia, é inteiramente equivocada esta conclusão, pois apesar de haver muita propaganda evangélica, nem tudo expõe o Evangelho genuíno (deveríamos usar somente a expressão “Evangelho”, mas como perdeu o sentido real ao longo dos anos, acrescentamos a palalavra “genuíno”).

No meio cristão pentecostal há uma forte ênfase no atuar do Espírito Santo na vida do cristão. Tal convicção encontra fundamento principalmente no livro bíblico de Atos dos Apóstolos, pois creem os pentecostais que a igreja de Atos é um modelo para a igreja atual. Entretanto, em alguns (muitos) casos a ênfase na atualidade dos dons espirituais e do batismo o Espírito Santo suplanta a “capacidade de raciocinar”, não que isto ocorra conscientemente em todos os casos, mas é que ao abandonarem a doutrina dos apóstolos (At 2.42) e ficarem só com a "experiência apostólica", parecem perder toda a capacidade intelectual que era presente nos primeiros discípulos para expor com inteligência o Evangelho (vide o discurso de Pedro em At. 2, Estevão em At. 7 e Paulo em At. 17).

Sendo assim, é fácil encontrar muitos púlpitos pentecostais pobres no que se refere à pregação da Palavra de Deus. Há entre muitos líderes o pensamento aintibíblico de que “não é por muito falar”; outros ainda conseguem sustentar a afirmação grosseira de que “a letra mata”, como sinônimo de resistência ao estudo bíblico/ teológico, e assim, negligentemente, vamos multiplicando heresias, assaltando as mentes de crentes incautos e matando neófitos na fé.

Cumpre esclarecer, portanto, que essa negligência não encontra respaldo doutrinário, tampouco na literatura denominacional (refiro-me aqui à assembleiana em alguns de seus consagrados expositores). A título de exemplo e falando diretamente sobre a preparação e entrega de sermões, atividade mais importante a ser desenvolvida em um púlpito, o escritor pentecostal Anísio Batista Dantas afirma que “O ministro do Evangelho, especialmente o pregador, é um guia para o leigo no entendimento da Bíblia.” [1] Tal missão de guia deveria fazer temer o ocupante do púlpito, pois ousa afirmar que fala em nome de Deus e que guia outros. Prosseguindo, acrescenta o escritor que “uma das maiores tragédias nos púlpitos de nossas igrejas é a má preparação dos pregadores, especialmente daqueles que, além de não estudarem, deixam de se dedicar à pregação”, ainda, “outras há que, sem desconfiar do entrave que causam à obra do Evangelho, são verdadeiros inimigos dos estudos e dos que estudam”.[2]

Se uma das maiores tragédias é a defeituosa exposição do pregador, pergunta-se: Quanto tempo em média dura a preparação de um sermão que vai ser exposto em 40 ou 50 minutos? Quantos minutos são gastos em oração, meditação e no duro exame do texto bíblico, bem como de materiais auxiliares? Há quem diga que isto tudo é desnecessário, pois basta abrir a boca que Deus a encherá (Sl 81.10) - seria este o propósito do texto de Salmos? Contudo, tal afirmação é mais uma demonstração da falta de preparação, falta de apego ao Texto Sagrado.

Um grande expositor bíblico dos dias atuais, no Brasil, disse que uma das primeiras coisas que observa ao visitar a casa de um colega de ministério é a biblioteca. Se é pobre o acervo, pressupõe-se que há pouca e deficiente preparação bíblica, pois "não dá pra ler só a Bíblia". Como assim? Dirão alguns: isto é uma heresia! É possível reafirmar, com mais ênfase, e mesmo sem medo de errar, pois em relação ao texto bíblico somos extremamente limitados, tanto quanto ao ambiente em que este foi produzido (histórico, geográfico, cultural etc.), quanto em relação ao texto original (hebraico, aramaico e grego) e tantos outros pormenores. Sendo assim, apesar de crermos inteiramente na Bíblia como Palavra de Deus tendo-a como regra de fé e prática, precisamos de auxílio, não substitutos, para aperfeiçoar o entendimento acerca das Escrituras.

Para citar dois autores pentecostais, volto ao escritor Anísio Batista que, discorrendo sobre o esquema e estrutura do sermão afirma que além do conhecimento da Palavra de Deus o pregador necessita de:

6. Cultura geral. Não há limite para a cultura do obreiro cristão, especialmente a do pregador. Deve ser armazenada através dos anos, por longos e profundos estudos, leituras demoradas e constantes, e frequentes pesquisas. Leituras esporádicas nunca deram cultura sólida a ninguém, e o inimigo dos livros jamais será culto.
7. Cultura específica. Envolve conhecimento especializados, particularmente a teologia (em seus vários ramos), história geral, história do povo hebreu, geografia bíblica, homilética, hermenêutica, ética e atividades pastorais, ética cristã, evangelismo, missões, psicologia, sociologia, além de sólido conhecimento da língua em que vai pregar.
8. Conhecimentos atualizados. São adquiridos de todos os campos da atividade humana, através de livros, periódicos, anotações de conferências, sermões d e outros pregadores, convenções, escolas bíblicas, seminários e todos os meios de difusão cultural e informação. Naturalmente, esses conhecimentos armazenados são repassados na mente, laboratório intelectual do pregador, na medida do possível e à proporção que vão surgindo as necessidades. Eles enriquecem o homem de Deus com novas experiências. Acrescntadas ideias próprias, o pregador poderá preparar melhor os seus sermões.[3]

Fortalece os argumento acima, lição do renomado professor de homilética das Assembleias de Deus no Brasil, Pastor Elinai Cabral:

Todo pregador que se preze deve possuir uma biblioteca, à qual não deve faltar um dicionário bíblico, uma enciclopédia bíblica, comentáios, geografia e arqueologia bíblicas, história geral e da Igreja, livros devocionais, biografias, manuais de doutrina, dicionário da língua portuguesa e outros.[4]

Uma adverência deste autor deveria ser tocada em alto e bom som para os pregadores atuais: “O pregador não deixa de ser espiritual pelo fato de enriquecer seus sermões com conhecimentos gerais.”[5]

Não foi Pedro que afirmou que o crente deve crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (2 Pe3.18)? Não crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens  (Lc 2.52)? Por que desprezar o crescimento no conhecimento?

A precariedade nos púlpitos impede o crescimento dos cristãos, impede o avanço da igreja, impede que seja Igreja.

Sendo assim:
Aos que pregam, não sejam negligentes (1 Tm 4.14).
Aos que ouvem, não sejam acomodados (At 17.11.).

Continua...
 
*Editado em 22/08/17.

[1]  - DANTAS,  Anísio B.; Como Preparar Sermões – Dominando a arte de expor a Palavra de Deus. 23ª impressão. Rio de Janeiro: CPAD,2013, p.35.
[2]  - Ibid.
[3] - Ibid  p. 75.
[4]  - CABRAL, Elienai.  Programa em Formação de Teologia - HOMITÉTICA I. Campinas-SP: EETAD 2016, p. 9.
[5]  -  Ibid , p. 8.

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